Mostrando postagens com marcador Livros. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Livros. Mostrar todas as postagens

9 de abr. de 2025

O livro e a importância do vendedor

Transcrição do bate-papo entre o escritor Ron Perlim e o ex-secretário de Cultura, Juventude e Esportes de Propriá, Sergipe, Renison Félix. O bate-papo aconteceu na secretaria em março de 2021 e teve como tema: O livro e a importância do vendedor.

Principais Tópicos:

  • Importância do vendedor de livros: Discute-se o papel do vendedor, tanto o tradicional que oferece livros de porta em porta quanto o autor independente que vende suas próprias obras. É ressaltada a necessidade de desenvolver o hábito da leitura na população.
  • Desafios na venda de livros: Aborda-se a dificuldade de vender livros no Brasil, não apenas didáticos, mas também autorais, devido à "incompreensão" da população sobre o valor do livro como investimento. A influência das novas tecnologias em tirar o foco da leitura também é mencionada.
  • Obras do escritor Ronaldo Pereira de Lima (Ron Perlim): São apresentados seus livros, como "As Margens do Rio Rei", "Agonia Urbana", "Porto Real do Colégio: Sociedade e Cultura", "Laura", "A Menina das Queimadas", "Viu o Homem", "Foi Só um Olhar", "O Povo das Águas" e "Porto Real do Colégio: História e Geografia". Algumas obras foram premiadas ou adotadas por escolas.
  • Dia do Bibliotecário: É mencionada a importância do bibliotecário como orientador no universo literário, facilitando o acesso ao conhecimento.
  • Importância da biblioteca pública: Debate-se o papel crucial da biblioteca pública no município, especialmente em contraposição à ideia de que o celular substituiria essa instituição. A biblioteca é vista como um espaço de acesso democrático ao conhecimento, cultura e desenvolvimento social, além de promover a saúde física e emocional através da leitura em formato físico. A situação da biblioteca desmontada em Propriá é mencionada, assim como os esforços para sua reativação.
  • Academias de Letras: Discute-se a ausência de maior participação das academias de letras (como a Academia Propriaense de Letras) junto ao poder público para fomentar a cultura e a literatura. É defendida uma atuação mais ativa dessas instituições na proposição de projetos e no diálogo com as secretarias de cultura e educação.
  • Feira de Livros em Propriá: É levantada a possibilidade de realizar uma feira de livros no município após a pandemia, considerando seu potencial como polo regional. A ideia de uma futura Bienal também é mencionada como um sonho a ser perseguido.
  • Fomento à venda de livros: Questiona-se a falta de incentivo para a venda de livros, inclusive de porta em porta, e o impacto da tecnologia nesse tipo de comércio.
  • Adoção de obras literárias nas escolas: Discute-se a importância de as escolas adotarem obras de autores locais, como ocorreu com o livro "Porto Real do Colégio: História e Geografia" na Escola Santa Terezinha. O processo de adoção em escolas particulares e públicas é brevemente explicado.
  • Contexto das obras de Ronaldo Pereira Lima: O autor explica a origem e o tema de cada um de seus livros, desde a necessidade de uma obra sobre a história de Porto Real do Colégio até crônicas políticas e reflexões sobre a violência.

Resumo: o bate-papo destaca a relevância dos livros, dos profissionais que os disseminam (vendedores e bibliotecários), e das instituições que promovem o acesso à leitura (bibliotecas e academias de letras), com um olhar específico para o cenário cultural e literário de Propriá e das cidades circunvizinhas..

Leia Mais ►

7 de mar. de 2025

O Autor Fala de Sua obra: Roniel Teipó

O Blogue do Ron Perlim recebe com alegria a entrevista de Roniel D. Teipó. Ele nos falará do seu livro Pirata na  estrada: história do Piratas do Agreste Moto Clube.

Roniel Teipó; @ron_pamc

Roniel D. Teipó, 26 anos, é músico, motociclista e escritor brasileiro, natural de Porto Real do Colégio, Alagoas, e atualmente reside em Arapiraca. Membro do Moto Clube Piratas do Agreste MC, dedica-se à irmandade e às aventuras sobre duas rodas. Recentemente, escreveu o livro "Pirata na Estrada", no qual narra experiências e histórias vividas no clube em que faz parte e no universo dos motociclistas.

Ron Perlim: Como nasceu o livro Pirata na Estrada:

Roniel Teipó: O livro Pirata na Estrada nasceu da minha vivência como motociclista e membro do Piratas do Agreste Moto Clube. Sempre fui apaixonado por motos e ao longo do tempo que estou no clube, acumulei histórias, experiências e reflexões que pareciam pedir para serem registradas de alguma forma.  

O estalo para escrever veio de forma quase inesperada, a partir de pequenas publicações que fiz no Instagram sobre o Piratas do Agreste MC e Motociclismo no geral. Inicialmente, eu apenas queria compartilhar algumas histórias do clube, registrar momentos marcantes das nossas viagens e dar voz à cultura biker que vivemos intensamente.

À medida que eu publicava esses textos, percebi que havia uma resposta muito positiva. Motociclistas e até pessoas que não eram do meio comentavam e demonstravam interesse em saber mais sobre o que significa ser do Piratas do Agreste MC. Essas postagens começaram a ganhar força e, com o tempo, percebi que não eram apenas relatos soltos, mas sim pedaços de uma história maior, que merecia ser contada com mais profundidade. Eu queria contar isso para o mundo, mas não queria fazer um livro meramente técnico ou documental. Queria algo mais vivo, algo que transmitisse a essência do que é ser um motociclista de verdade.  

Assim, fui escrevendo aos poucos, entre uma viagem e outra, entre reuniões do motoclube e momentos de descanso. Algumas histórias vieram direto da estrada, outras foram escritas sobre relatos de membros mais antigos no clube, e muitas surgiram de reflexões pessoais sobre liberdade, respeito, lealdade e motos. O título Pirata na Estrada surgiu de uma regra que temos no clube, onde, ao viajar, devemos colocar no nosso grupo a localização em tempo real, e informamos aos demais membros com a frase "Pirata na Estrada". No livro, a estrada é muito mais que uma rodovia. A "estrada" refere-se a própria história.

No início, não sabia se o livro tomaria forma definitiva ou se ficaria apenas como um registro pessoal, mas quanto mais eu escrevia, mais percebia que ele poderia significar algo para outras pessoas. E assim, entre curvas, aceleradas e muita inspiração, o livro nasceu.  

Ron  Perlim: Do que trata ou fala o livro?

Roniel Teipó: Pirata na Estrada não é apenas um livro sobre motos e viagens. Ele é uma mistura de narrativa, filosofia de vida e cultura motociclística. No fundo, é um retrato do que significa viver na estrada, pertencer a um moto clube e carregar no peito o compromisso com uma irmandade que vai além da amizade comum.  

O livro fala sobre os códigos e história do Piratas do Agreste MC, a relação de respeito e lealdade entre irmãos membros, as histórias vividas nas viagens e encontros, e até mesmo as dificuldades que enfrentamos por escolher esse estilo de vida. Há momentos de aventura, de perigo, de reflexão e de pura adrenalina.  

Além das experiências pessoais, o livro também aborda a simbologia dos motoclubes, o significado dos valores, dos brasões e das regras que regem nosso universo. Quem está de fora muitas vezes não entende ou tem uma visão distorcida sobre os moto clubes, e eu quis trazer uma visão realista, mostrando que, por trás do couro e das motos barulhentas, há valores muito sólidos e um respeito profundo entre aqueles que vivem essa vida de verdade.  

Outra parte importante do livro são as histórias de membros como o Jaime, presidente do Clube, entre outros membros que encontraram no motociclismo uma segunda chance na vida, ou até mesmo aqueles que enfrentaram desafios enormes, mas nunca desistiram da paixão pela moto. 

Pirata na Estrada é um livro sobre liberdade. É sobre o desejo de explorar o mundo sobre duas rodas, de desafiar os próprios limites, de encontrar um propósito na estrada. Ele é dedicado não só aos motociclistas, mas a todos que, de alguma forma, se identificam com a ideia de buscar algo maior, de viver intensamente e de seguir o próprio caminho, independente dos obstáculos.  

Se você já sentiu aquela vontade de pegar a estrada sem destino certo após assistir Easy Rider, se já se perguntou como seria uma vida sem amarras, ou se simplesmente admira a cultura motociclística, então esse livro é para você.

Saiba Mais:

Sinopse

Embarque em uma jornada emocionante pelos caminhos do Piratas do Agreste Moto Clube, uma irmandade que nasceu do asfalto quente e do espírito livre do agreste brasileiro. Desde suas raízes, quando um grupo de amigos decidiu transformar a paixão por motos em um estilo de vida, até os dias atuais, este livro revela as histórias que moldaram a alma do clube.

Com capítulos recheados de aventuras, desafios e conquistas, "Pirata na Estrada" apresenta os valores que guiam os Piratas. Você descobrirá como o clube se tornou um símbolo de união e resistência, navegando por eventos marcantes, encontros inesquecíveis e as transformações que acompanharam sua trajetória ao longo dos anos.

Mais do que um livro sobre motociclistas, esta é uma celebração de uma cultura que une estradas e pessoas, mostrando que, para os Piratas do Agreste, o destino final é sempre o próximo horizonte. Prepare-se para acelerar e mergulhar nesta aventura cheia de emoção, nostalgia e um pouco de poeira na bota.

Onde comprar:

Neste link: Pirata na Estrada, por Roniel D. Teipó - Clube de Autores ou diretamente com o autor pelo seu Intagram: @ron_pamc
Leia Mais ►

13 de fev. de 2025

O Autor Fala de Sua Obra: Anita Paixão

O Blogue de Ron Perlim tem a grata satisfação de publicar neste espaço a entrevista de Anita Paixão, autora do livro Lydio Paixão: da Revolta Tenentista de 1924 ao suicídio de Vargas.

Anita Paixão

Escritora e pesquisadora, Anita Rocha Paixão nasceu na cidade de Aracaju-SE, em 1971. Graduou-se em Direito pela Universidade Federal de Sergipe em 1994, sendo Especialista em Direito Eleitoral pela Universidade do Sul de Santa Catarina e Especialista em Processo e Direito do Trabalho pela FANESE. É funcionária do Tribunal Regional Eleitoral de Sergipe, ocupante do cargo de Analista Judiciário e da função de assessora de Juiz-Membro. Coordenadora Geral do Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário Federal em Sergipe e Presidente da Associação dos Servidores da Justiça Eleitoral do Estado de Sergipe.
Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, da Academia Cedrense de Letras e Artes e da Confraria Sancristovense de História e Memória. Participa do Movimento Cariri Cangaço e integrou a Comissão Organizadora do Simpósio "O Cangaço no Baixo São Francisco", em 2024, na cidade de Propriá-SE. Autora do livro ”Lydio Paixão: da Revolta Tenentista de 1924 ao Suicídio de Vargas”, que se encontra na 3ª edição. Coautora do livro "Um Sertão de Letras, Glórias e Memórias". Encontra-se no prelo o livro "A Dor".

Ron Perlim: Como nasceu o livro “Lydio Paixão: da Revolta Tenentista de 1924 ao suicídio de Vargas”?

Anita Paixão: 

O livro foi fruto da curiosidade, da inquietação e do amor. Cresci escutando a história de que meu avô tinha sido assassinado de forma bárbara: linchado em plena Praça Pública. Queria entender os motivos que levaram à multidão, naquele fatídico 24 de agosto de 1954, a trucidar um homem de bem, pai de 10 filhos. Daí a curiosidade. A inquietação surgiu na adolescência quando comecei a pesquisar sobre a questão. Os textos, os livros, os documentos tratavam a morte de Lydio Paixão como um número, uma estatística, um popular assassinado (única morte registrada em Sergipe por conta das revoltas populares de 24 de agosto de 1954) ou um nome sem referência. Aquilo me incomodava muito e sentia a necessidade de descortinar o mistério que envolvia a morte do meu avô, bem como resgatar a memória de Lydio Paixão, nos aspectos humano e histórico-social. Por fim, fui movida pelo amor. A publicação do livro representou um acalento para a minha família, especialmente para o meu amado e hoje saudoso pai, também Lydio Paixão.

Ron Perlim: Do que trata ou fala seu livro?

Anita Paixão: Trata da biografia de Lydio Paixão, inserida na história de Sergipe, entre as décadas de 1920 e 1950: laranjeirense, revoltoso de 1924, preso político, integralista, orador popular, líder trabalhista, delegado, cotinguibense, boêmio e pai de 10 filhos. Ao fazer de Lydio Paixão objeto central da minha pesquisa, procurei fugir dos tradicionais modelos de construção biográfica. Edificando a síntese de uma época, a partir da especificidade da trajetória de um sujeito individual, registrei, nas páginas do livro, um pontual estudo de relevantes fatos históricos verificados no Brasil e em Sergipe, no recorte temporal mencionado.

 Interessados, entrar em contato com a autora: @anitapaixaooficial.





 

Leia Mais ►

16 de out. de 2024

Alunos fazem homenagem a Ron Perllim

Dia 02 de outubro de 2024.

O escritor Ron Perlim foi convidado para participar de um evento cultural realizado pela Escola Estadual D. Santa Bulhões, ele e Nhenety Kariri-Xocó.

Em sua fala reforçou a importância do livro e da leitura para a vida pessoal, profissional e para a saúde. Sempre que participar desses eventos, faz questão de dar ênfase sobre isso por saber o quanto a leitura é importante para as pessoas. Fez isso quando participou de uma Roda de Conversa nessa mesma escola, com a turma da professora Geovana no dia 18 de setembro de 2024.

Escola Estadual Dona Santa Bulhões
Porto Real do Colégio, AL.

Antes de passar a palavra para Nhenety Kariri-Xocó, fez uma breve apresentação de seu amigo e coautor de Muritaê, livro cujo conteúdo é a Memória, História desse povo.

Nhenety, por sua vez, falou sobre a importância do encontro cultural e da proximidade das escolas com a cultural do seu seu povo, deu o significado do nome Muritaê, agradeceu pelo convite e encerrou a sua fala. 

Houve uma apresentação do alunado.

Após a apresentação, a professora doutoranda, Elizabeth Costa Suzart, deu ênfase no que havia sido dito anteriormente; enriquecendo ainda mais o bate-papo. Parabenizou os alunos, o corpo docente e agradeceu pela participação.

Os alunos e a professora Geovana presenteou os escritores Ron Perlim e Nhenety com uma linda xícara com a foto do livro Muritaê e a foto de cada um deles.

Profa. Geovana, Ron Perllim e Nhenety Kariri-Xocó
O autores ficaram muitos felizes.

Agradeceram aos alunos e a professora.


Leia Mais ►

12 de dez. de 2023

Lançamento do livro Chico, o Velho. Cedro de São João. Sergipe

Dia 02 de dezembro de 2023.

O escritor Ron Perlim esteve presente no Centro de Cultura Maria Conceição Nunes, localizado na cidade de Cedro de São João, Sergipe para a noite de lançamento da 2ª reimpressão do livro Chico, o Velho e um bate-papo com o professor de História e pesquisador Eribaldo Vieira de Melo (Badinho).

Marcléa O. R. de Lima

A abertura do evento foi feito pela a esposa do autor, Marcléa O. R. de Lima que leu uma nota biográfica de Ron Perlim, convidando-o para fazer parte do bate-papo e em seguida o professor Badinho. 

Ron Perllim e Badinho

O bate-papo iniciou com a pergunta sobre quando o escritor teve gosto pela leitura. 

Ron Perlim disse que, por ter quebrado o braço e não poder estar como amigos fazendo travessuras, passa a maior parte do tempo em casaa e por isso, lia bastante; mas o livro que o marcou foi o Caso da Borboleta Atíria, de Lúcia Machado de Almeida.

Depois dessa leitura, não parou mais.

O autor também discorreu sobre outros livros de sua autoria e após o bate-papo houve a sessão de autógrafos.


















Leia Mais ►

10 de nov. de 2023

Discurso, História, Ideologia e sua relação com a linguagem


Em seu livro Análise de Discurso: Princípios e Procedimentos, (2015); Eni P. Orlandi, nas primeiras páginas, apresenta reflexões acerca da linguagem, além disso, efetua observações no que se refere aos impactos que os fatores externos (sociais) podem gerar para o discurso. Somos seres complexos e falhos por natureza, consequentemente, a linguagem, assim como nós, está sujeita a equívocos. Como estamos inseridos em uma sociedade composta por diversos indivíduos, iremos nos deparar não só com diferenças culturais, inclusive, variadas formas de pensar, mas também com semelhanças; com histórias e ideologias, com outros. Podemos notar ou não, mas temos uma forte ligação com a linguagem, uma vez que fazemos parte dela e ela de nós. Logo, se pensarmos em neutralidade numa sociedade tão diversificada com indivíduos que estão inseridos na história e também são interpelados pela ideologia, iremos notar uma demarcação ou até mesmo uma tendência pessoal de significar o mundo e isso se mostra na linguagem. Nas palavras da autora: "Estamos sujeitos à linguagem, a seus equívocos, sua opacidade. Não há neutralidade nem mesmo no uso mais aparentemente cotidiano dos signos." (p. 7).

Diferente da Linguística, que trata das questões linguísticas considerando a interioridade, a Análise de Discurso (AD) trata dessas questões considerando a exterioridade. Enquanto para a primeira o que interessa é o sistema linguístico e não o falante, para a segunda o que interessa é um objeto que envolve não só a língua, mas também o falante. Se a primeira desconsidera o falante, consequentemente não há interesse na história do mesmo. A linguagem é trabalhada como se fosse abstrata, existe porque existe e nela mesma. Neste sentido, passa a também ser transparente. Mas, segundo a autora, há espessura, há opacidade na linguagem. A Análise de Discurso trata a linguagem em um sentido material, pois leva em conta não só a língua, mas também a história e a ideologia. Logo, não considera a linguagem como abstrata nem tampouco neutra. Segundo a linguista: "A primeira coisa a se observar é que a Análise de Discurso não trabalha com a língua enquanto um sistema abstrato, mas com a língua no mundo, com maneiras de significar, com homens falando (...)." (p. 14). Por lidar com o homem falando, com a língua no mundo etc., dizemos que a Análise de Discurso não se prende, não se fixa, porque os sentidos mudam, há sempre sentidos outros que, muitas das vezes, vêm de outros lugares. "As palavras falam com outras palavras. Toda palavra é sempre parte de um discurso. E todo discurso se delineia na relação com outros: dizeres presentes e dizeres que se alojam na memória." (ORLANDI, 2015, p. 41).

Sendo assim, a Análise de Discurso também muda e faz isso junto com o mundo. Nessa movência, problematiza as áreas vizinhas como, por exemplo, a Linguística, que está presa, já definiu seu objeto (sistema linguístico) e se restringiu a ele. No caso da AD, o objeto de estudo é o discurso. Mas não nos referimos à fala; já que, independentemente, se tratamos da oralidade ou da escrita, o que interessa são os efeitos de sentidos entre os locutores. Isto é o discurso. Tal palavra traz em si a ideia de curso, de percurso, de movimento. Conforme Eni Pulcinelli, "o discurso é assim palavra em movimento, prática de linguagem: com o estudo do discurso observa-se o homem falando" (p. 13). Como não somos pares, mas sim ímpares, estamos sujeitos à linguagem e a seus equívocos; se pensarmos em uma comunicação perfeita estaremos fugindo da realidade, já que até mesmo os sentidos são vários e não são exatos. Numa comunicação onde temos aquele que fala e aquele que ouve, não temos somente transmissão de informações, mas também temos sentidos presentes nesse processo. Portanto, há um jogo de significação presente não só naquele que fala, não só no discurso, mas também naquele que ouve. Neste contexto, a Análise de Discurso trabalha a relação língua-discurso-ideologia, uma vez que a linguagem se materializa na ideologia, o discurso é a materialidade específica da ideologia e a materialidade específica do discurso é a língua.

Louis Althusser, em seu livro Ideologia e Aparelhos Ideológicos do Estado (1998), no capítulo antepenúltimo, nos leva a refletir acerca da interpelação que a ideologia faz para com o indivíduo. Nós nascemos em um mundo marcadamente ideológico, portanto, de certa maneira, acabamos por fazer parte desse acontecimento e, consequentemente, acabamos por significar-se e significar o mundo. Por exemplo, nós possuímos um nome e isto já é fundamental neste mundo, porque faz parte de nossa identidade, não nos referimos só ao documento, mas a quem somos. Isto é tão forte, no entanto, não notamos. Suponhamos que alguém lance a pergunta "Quem é você?" em determinado lugar para mais de uma pessoa. Terá alguma delas que irá responder "Sou Fulana(o)!". Vai dizer o próprio nome. Isso não ocorre por acaso, há uma motivação que leva uma pessoa a responder A ou B e isto faz parte do processo de significar-se. A Análise de Discurso não quer saber quem é o sujeito da frase, ela quer saber quem é esse sujeito no mundo, quer saber o que, por exemplo, leva tal pessoa a dizer seu próprio nome diante da pergunta: "Quem é você?". Bem, se nos tirarem o nome, se não perdermos parte de nossa significação, nós a perderemos toda. De acordo com Althusser (1998, p. 94), "a categoria de sujeito só é constitutiva de toda a ideologia, na medida em que toda a ideologia tem por função (que a define) «constituir» os indivíduos concretos em sujeitos". Ou seja, em sujeitos concretos. Entretanto, antes de virmos ao mundo, somos abstratos. Só passamos a ser concretos quando chegamos ao mundo. Mas ainda, segundo o autor, somos "sempre-já sujeitos", até mesmo antes de nascermos; “os indivíduos são sempre-já sujeitos… Que um indivíduo seja sempre-já sujeito, mesmo antes de nascer, é no entanto a simples realidade (...)” (p. 102).

Se voltarmos ao tempo em que éramos só uma ideia ou um desejo de um casal, neste momento, somos abstratos. Mas se avançarmos um pouco para a fase de gestação e depois de geração, neste momento, passamos a ser concretos, justamente por estarmos no mundo, em uma família, por já termos um nome e um gênero. Estes últimos já são pensados antes mesmo de virmos ao mundo. O que quebra a expectativa é justamente quando, por exemplo, espera-se gênero X e vem Y. Mas, independente de qual venha, já se desenha um caminho para se percorrer, já se pensa em quais roupas vestir, a cor do quarto, os brinquedos, as amizades etc. É um "sujeito-já" mesmo. Pensando em linguagem, já nascemos em um contexto marcado por ela também. Tal pessoa nasceu em tal país que possui tal língua, consequentemente essa pessoa irá aprender essa língua. Mas por que aprende essa língua e não outra? Porque há uma espécie de programa, isso recai na história, recai na ideologia, recai na língua, recai no sujeito. Nós não temos o discurso, ele é que nos tem. Não temos a ideologia, ela é que nos tem. Nisto fazemos sentido, mas estes não são determinados pela nossa vontade. Eles fazem sentido porque estamos inscritos na língua e na história. Segundo Orlandi, “(...) embora se realizem em nós, os sentidos apenas se representam como originando-se em nós: eles são determinados pela maneira como nos inscrevemos na língua e na história e é por isto que significam e não pela nossa vontade” (p. 33). Isto nos leva a refletir sobre determinada coisa e não outra fazer sentido para nós. De certa forma, faz sentido porque estamos naquilo e aquilo está em nós. A palavra "sorte", por exemplo, não vai significar a mesma coisa para uma pessoa sortuda e para uma azarada, nem tampouco "azar" vai significar a mesma coisa para ambas.

Concluindo, todos nós, de certa forma, somos colocados na posição sujeito; neste caso, sujeitos do discurso. Por exemplo, eu, enquanto indivíduo ao escrever, sou um sujeito-autor; eu, enquanto indivíduo que ler, sou um sujeito-leitor; eu, enquanto indivíduo que analisa, sou sujeito-analista etc. Quem faz isso conosco é a ideologia. Até mesmo se pensarmos nos preconceitos que circulam na sociedade, notaremos que não nascemos já preconceituosos, mas que por estarmos inseridos em um mundo já de preconceitos, iremos nos deparar várias e várias vezes com eles diante de nós ou em nós. Dizer-se não preconceituoso equivale a negar estar na ideologia quando, por exemplo, acusa o outro de estar nela. Althusser (1998, p. 101) chama a atenção para essa "denegação prática do caráter ideológico'', que ele diz ser um dos efeitos da ideologia. Para a Análise de Discurso interessa essa ideologia materializada na linguagem. Somos afetados pela língua e pela história. Sendo assim, todo discurso é marcadamente ideológico.

Bibliografia

ALTHUSSER, L. P. A ideologia interpela os indivíduos como sujeitos. Ideologia e Aparelhos ideológicos de Estado. 7ª ed. Rio de Janeiro: Graal, 1998. pp. 93-104.

ORLANDI, E. P. Análise de discurso: Princípios e Procedimentos. 2. ed. Campinas: Pontes, 2000. I. O Discurso E II. Sujeito, História, Linguagem pp. 15-52.

Leia Mais ►

19 de set. de 2023

Preconceito Linguístico ou Social?


Ainda hoje há aqueles que tratam a língua como um objeto à parte, que tem vida própria; esquecendo-se de considerar os indivíduos que a utilizam. Para que uma língua exista, é preciso que existam seus falantes. Muitas línguas indígenas, por exemplo, morreram com os seus falantes ao longo do tempo, outras sobreviveram e ainda estão ativas, pois ainda há falantes que se utilizam dessa língua. Apesar de Saussure, linguista genebrino, focar seus estudos na língua e fazer pouco caso dos indivíduos, ele dizia que a linguagem possui duas faces e que ambas se correspondem e uma não vale senão pela outra. Ou seja, subentende-se que há sim uma certa relação entre o indivíduo e a sua língua, pois, esse individuo, a partir da fala, vai se remeter à língua, pondo em prática a sua capacidade de se utilizar dela. A partir do uso individual de cada um, e vale destacar que cada falante tem um modo particular de fala, é que surge no meio social formas variadas de comunicação, dizeres ou expressões comuns a um ou a um grupo de indivíduos de determinado lugar. Neste ponto de variação da fala e de um modo particular que cada indivíduo tem de fazer uso de sua língua, surge um certo preconceito que, não é só linguístico, mas também social.

O Brasil é um país multirracial e diverso, não só em raça ou cultura, mas também em língua e em variações linguísticas. Pessoas que moram na zona rural não falam como as que moram na zona urbana e dentro da própria zona urbana encontram-se variações de fala. Fatores como o geográfico e o social evidenciam essas variações. Porém, apesar de hoje já se ter esse conhecimento, o preconceito ainda persiste e cada vez ganha mais força. Alguns sulistas, por exemplo, têm preconceito para com os nordestinos. Mas esse preconceito não é só em relação aos aspectos fonético-fonológicos, mas também porque se refere aos nordestinos, num ponto de vista também social e até socioeconômico, não apenas linguístico. Pessoas de classe alta que gozam da oportunidade de usufruir de uma boa educação e tornam-se alfabetizadas e letradas têm preconceito para com os analfabetos e "não-letrados". Partindo de um olhar para o grau de escolaridade ou nível de alfabetização, o preconceito ganha mais força quando se trata de um pobre. Um indivíduo de classe alta ou média que comete erros gramaticais passa despercebido, mas um pobre que comete, por exemplo, os mesmos erros que esse indivíduo, é tachado de usuário “incompetente da língua”. Muitas das vezes o que importa não é o que se fala, mas quem fala. É de quem está partindo a fala. Logo, comparando-se um rico e um pobre numa situação comunicativa, certamente o preconceito se dirige para o último, os elogios e prestígio para o primeiro.

De acordo com o linguista britânico James Milroy: “Numa época em que a discriminação em termos de raça, cor, religião ou sexo não é publicamente aceitável, o último baluarte da discriminação social explícita continuará a ser o uso que uma pessoa faz da língua”. Há um certo sentimento de superioridade da parte dos letrados em relação aos pouco letrados. Isso se dá por conta do pensamento de que há um jeito certo de falar e de que para se falar corretamente só a partir da gramática. Esse pensamento evidencia uma confusão que até hoje muito se faz entre língua e gramática. É comum que enxerguem na norma o guia para a língua. Todavia, é o contrário, a língua é quem guia a gramática, não o inverso. Um pobre que mora na zona rural ou urbana e que não frequentou a escola, não deixa de ser um usuário da língua. Ele pouco teve ou não teve acesso a gramática, mas ainda assim consegue construir frases com sujeito, com verbos, com predicado, complemento etc. Há elementos morfológicos presentes em sua fala. Porém, isso não é levado em conta e uma pessoa analfabeta tem menos prestígio. 

A sociedade alimenta os preconceitos, seja de raça, gênero, como também o linguístico, o social. Contudo, até mesmo o analfabeto não deixa de ter uma relação com a língua. Esta está em atividade tanto na fala de um erudito quanto na fala de um analfabeto. Ela faz parte de cada indivíduo. O preconceituoso não tem essa concepção e também não leva em conta a história de nosso país, a miscigenação presente, as desigualdades sociais também pertinentes e as variações linguísticas recorrentes. Este assunto é só mais um assunto de escola que não tem importância, apesar de estar presente no ensino em sala de aula, pouco se dá atenção a esse assunto. Não se tem um ensino que vá de encontro ao preconceito e aos mitos. Pelo contrário, o ensino ainda é arcaico e influencia na criação de mitos, de preconceitos. É preciso uma reformulação geral na sociedade, no ensino e principalmente na mente de cada pessoa.

Texto dissertativo-argumentativo escrito a partir da leitura prévia do livro A norma oculta: língua e poder na sociedade brasileira / Marcos Bagno.

Leia Mais ►