9 de fev. de 2025

A verdade em diálogo

Toda a verdade humana é a verdade de um diálogo. Ninguém pode dizer a verdade sem primeiro a ter recebido. Aquele que imagina estar falando sozinho e pronunciar no absoluto uma palavra definitiva, engana-se sobre si próprio e sobre a verdade.

Há, em primeiro lugar, uma comunidade humana, um patrimônio de linguagens e de tradições, uma convergência das boas-vontades desde as mais longínquas origens da cultura. Os inventores que, de era em era, se afirmam à boca da cena são sempre também herdeiros e continuadores; a sua originalidade consiste em transformar as significações estabelecidas. É justo prestar homenagem ao seu gênio, mas este gênio não consiste nunca em criar qualquer coisa a partir do nada.

 

O diálogo do professor e do aluno situa-se no seio do imenso horizonte da cultura humana. Isto é melhor dizê-lo. Todos os pensamentos dos homens e todos os seus sonhos, não apenas aqueles que foram consignados nos livros e escritos na pedra ou na tela, mas ainda aquelas intenções e premeditações meio confessadas de que a linguagem conserva uma furtiva memória, compõem um domínio de recordação e de esperança, e também de virtualidades, no seio do qual se pronunciam as palavras ditas, os pensamentos esboçados. Todo homem que fala ao homem fala da humanidade à humanidade.

 

A faísca, a descarga só podem gerar-se dentro de um campo elétrico. O encontro e o diálogo supõem um espaço saturado de presença que fornecem referências comuns (...).

 

A verdade das verdades, justificação última de toda a atividade de ensino, é a verdade de uma comunidade, talvez até, no diálogo do professor com o aluno, se trate de cada vez, se trate sempre, da própria essência da condição humana. A verdade do diálogo é, portanto, uma verdade que ultrapassa o diálogo.

 

PILETTI, Claudino & PILETTI, Nelson. Filosofia e História da Educação. São Paulo: Ática, 1986. p. 30.

 


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